“Ideou as batatas em suas várias formas, classificou-as pelo sabor, pelo aspecto, pelo poder nutritivo, fartou-se antemão do banquete da vida.” Nas páginas do romance Quincas Borba, o escritor Machado de Assis (1839-1908) coloca o alimento no patamar de troféu, como uma espécie de prêmio que simboliza a luta pela sobrevivência.
Um posto justíssimo, especialmente porque essa família de vegetais americanos ajuda a nutrir muitos povos ao redor do globo há séculos. Destaque entre suas primas, a batata-doce é cultivada em grande escala no mundo, em parte, graças ao sucesso que faz na populosa China. Aqui no Brasil, é costume antigo assá-la nas fogueiras das festas juninas. E, mais recentemente, tornou-se queridinha entre esportistas e adeptos da malhação.
Aliada dos músculos
Existem pelo menos dois bons motivos para que ela tenha sido a eleita entre os atletas. Essa raiz tuberosa – como definem os botânicos – é provedora de potássio, mineral indispensável no combate às câimbras e que atua no equilíbrio de fluidos que circulam pelo organismo.
Outro de seus predicados é a grande concentração de carboidrato. Trata-se de uma das melhores fontes do nutriente que é sinônimo de disposição e que, de quebra, contribui para a recuperação da massa muscular justamente porque repõe o estoque de energia armazenado no músculo, o chamado glicogênio.
Uma das grandes vantagens do consumo dessa raiz adocicada é que ela libera energia aos poucos. Graças ao seu alto teor de fibras, o vegetal faz parte do grupo de alimentos de baixo índice glicêmico (IG). Essa classificação tem a ver com os efeitos que a comida provoca nos níveis de glicose no sangue. Também tem relação com a velocidade da digestão. Há indícios de que a batata-doce provoque uma resposta glicêmica gradual — aí, a entrada do açúcar nas células acontece gradativamente. Daí, além de garantir pique extra para os atletas, ela breca grandes picos de insulina.
Estudos mostram que o baixo IG reduz o risco de o diabetes tipo 2 aparecer e ajuda a conter depósitos de gordura na região abdominal. Sem contar que favorece o controle do apetite. Vale ressaltar, entretanto, que a cocção exagerada faz aumentar o tal índice e põe tudo a perder. É que extrapolar no cozimento destrói a integridade da parede celular do vegetal, ou seja, detona as fibras.
Aliás, por falar em preparo, não caia na armadilha de fritá-la rotineiramente. Quando vai para frigideira imersa em óleo, a hortaliça pode ficar com o triplo de calorias. A sugestão é assar ou cozinhar em panela de pressão. Ao acrescentar um fio de azeite, você aproveita melhor os carotenoides e, assim, eleva o potencial antioxidante do alimento. É combustível enriquecido com um protetor natural para as células.
Um conselho
A batata-doce oferece vitaminas do complexo B, parceiras do bom humor. Para não deixar que esses nutrientes se percam no cozimento, uma estratégia é prepará-la com casca e tudo. Aliás, se essas cascas forem bem lavadas, elas podem ir para o prato também, o que reforça o aporte de fibras.
Outros tipos de batata
Batata-inglesa
A mais popular entre as batatas não é uma raiz, mas, sim, um tubérculo, ou seja, a ponta de um caule subterrâneo que armazena amido. De sabor sutil, combina com uma porção de receitas e, mais que contribuir com energia, oferece minerais como potássio e fósforo. Também é fonte de uma proteína que defende as células e tem um nome sui generis: a patatina.
Batata-baroa
Também chamada de batata-salsa, trata-se da perfumada mandioquinha. De coloração amarela, ela é uma raiz e faz parte da família da cenoura. Graças à sua doçura compõe a receita de papinhas para os bebês, além de sopas e cremes. Oferece carboidrato aos montes, além de doses de betacaroteno, um pigmento que favorece a saúde dos olhos e é aliado da beleza da pele.
Batata yacon
Essa raiz de origem andina, cujo nome científico é Smallantus sonchifolius, ficou conhecida por aqui como “batata dos diabéticos”. Tal alcunha surgiu porque o alimento favorece o equilíbrio das taxas de açúcar no sangue. Por trás desse benefício há uma substância chamada inulina e que serve de comida para as bactérias do bem que povoam nosso intestino.
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