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Adoçante: o exagero engorda?

Estudo sugere que se exceder nos substitutos do açúcar pode render quilos extras. Mas especialistas pedem calma. O recado é saber usá-los do jeito certo

Por André Bernardo
Atualizado em 14 fev 2020, 18h26 - Publicado em 2 jul 2017, 10h02
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Extrapolar nas doses de adoçante é prejudicial ao organismo  (Foto: Fabio Castelo/SAÚDE é Vital)
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É o tipo de notícia que causa barulho e estranheza. Um experimento apresentado na última edição do Endo, um dos congressos de endocrinologia mais respeitados do mundo, deixou os usuários de adoçantes com um gostinho amargo na boca e um ponto de interrogação na cabeça. A pesquisa comandada pelo médico Sabyasachi Sen, da Universidade George Washington, nos Estados Unidos, aponta que edulcorantes artificiais de baixo teor calórico são capazes de alterar o metabolismo e induzir o acúmulo de gordura em indivíduos obesos.

Para chegar a essa conclusão, a equipe de Sen testou o efeito da sucralose, que é 600 vezes mais doce que o açúcar, em células extraídas do tecido adiposo humano. A quantidade avaliada era equivalente à de quatro latas de refrigerante diet. Depois de 12 dias, notou-se em laboratório um aumento na expressão de genes relacionados à inflamação e ao depósito de gordura.

Na segunda parte do estudo, os cientistas analisaram amostras da gordura abdominal de oito pessoas que usavam constantemente sucralose – quatro obesas e quatro com peso normal. Nos voluntários mais rechonchudos, Sen observou que, por alterações bioquímicas, se elevava o transporte de açúcar para as células, bem como uma maior tendência de elas estocarem gordura.

“Meu trabalho não é o primeiro a mostrar uma correlação entre consumo de adoçante e ganho de peso. Por ora, o que posso dizer é: tentem reduzir a ingestão do produto”, declara. Embora a experiência tenha sido feita com a sucralose, o endocrinologista revela que quer testar em breve o impacto de outros adoçantes, como aspartame e estévia.

A descoberta, no entanto, foi recebida com cautela por especialistas da área. A grande maioria afirma que não há evidências robustas de que muito adoçante engorda. A médica Maria Edna de Melo, do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, conta que as teorias levantadas até o momento, incluindo a de Sen, não foram comprovadas de maneira contundente. “Estudos mais amplos com seres humanos mostram que os usuários de adoçantes perdem peso. Até porque, muitas vezes, eles são incluídos em uma dieta com menos calorias”, explica a endocrinologista.

Acima de qualquer suspeita

Volta e meia surge uma pesquisa – boa parte feita em animais – colocando em xeque a segurança e a eficiência da classe. Umas insinuam que esses produtos aumentam o risco de câncer. Outras que geram uma espécie de efeito rebote e favorecem a obesidade e o diabete. Há alguma verdade nisso?

De acordo com a engenheira de alimentos Maria Cecília Toledo, da Associação Brasileira da Indústria de Alimentos para Fins Especiais e Congêneres (Abiad), sobram especulações e faltam evidências. “O uso de adoçantes, dentro dos limites recomendados, é totalmente seguro”, enfatiza. Passemos então à próxima questão: será que estamos utilizando de forma adequada?

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Tenha em mente que ninguém vai perder peso apenas porque incluiu as gotinhas ou os sachês na rotina. É ilusão achar que o adoçante sozinho vai emagrecer se também não houver adesão a um cardápio regrado e à atividade física. “Muitos consumidores usam adoçante de maneira incorreta”, afirma a nutricionista Ana Paula Gines Geraldo, da Universidade Federal de Santa Catarina. “Tem gente que recorre a ele para economizar calorias, mas que, no fim, ingere outros alimentos muito mais calóricos”, exemplifica.

Em sua tese de doutorado pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, Ana Paula avaliou o comportamento no consumo de adoçantes e sua relação com o excesso de peso. Entre outras constatações, verificou que 15% dos 1 323 entrevistados não sabem usar a versão líquida. Em vez de contar as gotas, esguicham o produto no café ou no suco. Resultado: perdem a noção de quantidade e correm risco de ultrapassar os limites.

Endócrinos, nutrólogos e nutricionistas têm conselhos para incentivar o emprego consciente dos edulcorantes. O médico Carlos Alberto Nogueira, vice-presidente da Associação Brasileira de Nutrologia, lembra que usuários de produtos light e diet precisam aprender a ler os rótulos. “Muitos ingerem adoçante sem saber. Alguns sucos, gelatinas e iogurtes, por exemplo, contêm o ingrediente em sua fórmula”, diz.

Olhar melhor para as embalagens é o jeito de não extrapolar a dose máxima diária. Já Maria Cecília Toledo, da Abiad, sugere que os consumidores variem nos tipos e nas marcas. Em outras palavras, façam um rodízio. “Alternar periodicamente os adoçantes leva o indivíduo a não se exceder em cada um deles”, justifica.

Parece óbvio, mas não custa reforçar: não é por ser adoçante que está dado sinal verde para esvaziarmos os sachês ou tomarmos latas e latas de bebidas diet. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estabeleceu a Ingestão Diária Aceitável (IDA), a quantidade estimada que pode ser consumida por dia sem riscos à saúde. Alguns exemplos: estévia (4 miligramas por quilo de peso corporal), ciclamato de sódio (11 mg/kg), sucralose e acessulfame de potássio (15 mg/kg) e aspartame (40 mg/kg).

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Precisa ser tão doce?

A nutricionista Clarissa Fujiwara, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), ressalta que não é todo mundo que pode fazer uso de adoçante. Esses aditivos alimentares foram criados para substituir o açúcar nas dietas de grupos específicos, como pessoas diabéticas ou pré-diabéticas.

Com o avanço da obesidade pelo globo, passaram a ser indicados também para quem deseja emagrecer ou manter o peso. “Porém, crianças, adolescentes, gestantes e lactantes só estão liberadas para consumi-los sob orientação de um profissional”, avisa Clarissa.

Se você é do tipo que carrega a mão e não sai de casa sem uns sachês na bolsa ou na carteira, a nutricionista lembra que é possível reeducar o paladar. Não se trata de abolir o produto, mas buscar uma menor dependência pelo sabor doce – o que ajuda inclusive a não abusar do açúcar. A tática é reduzir gradualmente a quantidade em chás, cafés e sucos. “É provável que, aos poucos, o paladar se condicione a necessitar cada vez de doses menores”, diz.

E os adoçantes naturais? Seriam uma boa alternativa nessa história? Até podem ser. Só tenha consciência de que, ao contrário dos principais edulcorantes, eles têm lá sua carga calórica. Entre os mais nutritivos nesse segmento, Ândria Chreem, do Conselho Regional de Nutricionistas da 4ª Região (RJ/ES), destaca o mel, o agave, o açúcar mascavo e o de coco.

“Não importa que o adoçante seja natural ou artificial. O consumo deve ser moderado para que os benefícios à saúde prevaleçam”, analisa a nutricionista. Como é corrente no território da alimentação, tantas vezes não é o produto em si que está por trás do problema, mas, sim, a falta de bom senso durante o seu uso.

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Como usar adoçante…

…em gotas

Três a cinco gotas de adoçante equivalem, em geral, a uma colher de chá de açúcar. O correto é testar, de pingo em pingo, a quantidade ideal. Muitos botam um só e já ficam satisfeitos. Em termos de custo, a versão líquida sai mais barato.

…em pó

Um sachê costuma corresponder a duas colheres de chá de açúcar. Na comparação com as gotas, é mais prático: você pode levar os sachês para onde quiser. Em termos de segurança, ambas as opções são consideradas seguras.

5 tipos de adoçante

Sucralose

Feita da cana, é 600 vezes mais doce que o açúcar. É segura, mas há indícios de que não se deve submetê-la a altas temperaturas.

Acessulfame-K

Esse adoçante sintético é 200 vezes mais doce que o açúcar. Não está indicado para quem tem problemas renais.

Ciclamato de sódio

Trinta vezes mais doce que o açúcar, não deve ser usado por hipertensos. Está proibido nos Estados Unidos.

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Aspartame

É o único calórico da lista. Tem poder de adoçar 200 vezes maior que o açúcar e deve ser evitado por pessoas com fenilcetonúria.

Estévia

Extraída de uma planta, é 300 vezes mais doce que o açúcar, embora tenha um gostinho puxado para o amargo.

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